Testemunho da luta contra<br>o fascismo
A apresentação pública do livro Histórias da Clandestinidade, de António Gervásio, realizou-se no dia 25 de Fevereiro, no Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Faria, em Montemor-o-Novo. Na sessão, a que assistiram mais de uma centena de pessoas, participaram, além do autor, Francisco Melo, director das Edições «Avante!», Albano Nunes, membro do Secretariado do Comité Central do PCP, e Hortênsia Menino, presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo.
O autor, que neste dia comemorou o seu 89.º aniversário, afirmou que «o nome do livro dá a entender o seu conteúdo» – histórias e peripécias, situações de choque com a GNR e com a PIDE, prisões na rua, a luta pelas oito horas de trabalho – e acrescentou que uma das razões que o levaram a escrever a obra foi o facto de não haver «nenhum partido comunista na Europa com um percurso igual ao do Partido Comunista Português». «A dinâmica, a organização e as características do PCP são únicas e não é por acaso que o PCP não se vergou ao reformismo gorbachovista que lançou o desastre no mundo socialista», disse.
Defendendo que as grandes lutas, a agitação social e política que se verificaram ao longo de décadas devem ser escritas, na medida em que isso é a cultura do PCP, António Gervásio afirmou: «Só pude escrever este livro porque fui funcionário do Partido; se não o tivesse sido, nunca o poderia ter escrito. Portanto, este livro é do Partido, embora tenha sido escrito por mim.»
Testemunho vivo contra o revisionismo
Na sua intervenção, Albano Nunes, que prefacia a obra, destacou a importância de «testemunhos vivos» como os que se encontram em Histórias da Clandestinidade: «da luta corajosa conduzida na clandestinidade pelo único partido que conseguiu resistir à violência da repressão fascista». Num contexto em que as novas gerações «não fazem uma ideia clara do que foi a luta pela liberdade e o pesado preço que foi necessário pagar para a alcançar», sublinhou, mais valioso se afigura esta obra, na medida em que contribui para a sua educação e contraria «o revisionismo histórico que todos os dias branqueia o fascismo e apaga o valor da luta do Partido».
Albano Nunes destacou igualmente «a particular oportunidade» desta obra, que é uma «esclarecedora denúncia do Estado policial fascista», num momento em que «o populismo, o racismo e o fascismo» estão de novo «a levantar a cabeça por essa Europa fora». «Nestes tempos perigosos que vivemos na Europa e no mundo, a publicação destes testemunhos da luta é também uma contribuição concreta para a luta pela Liberdade e pela Paz», acrescentou.
Parabéns a dobrar
Em 42 anos de actividade das Edições «Avante!», «nunca tinha acontecido a feliz coincidência entre o lançamento de um livro e o aniversário do seu autor», disse Francisco Melo, que deu os parabéns a António Gervásio «em duplicado»: pelo 89.º aniversário e pelo nascimento da sua terceira obra. O editor analisou o actual contexto da produção e distribuição do livro, marcado por uma «avassaladora concentração», e sublinhou o esforço da editorial em «remar contra a maré», procurando «fazer ouvir a voz das classes dominadas, ontem sob uma feroz ditadura fascista – de que o livro de António Gervásio nos dá conta –, hoje numa democracia cada vez mais amputada, opressora do povo e usurpadora da soberania».
Já a presidente da Câmara, Hortênsia Menino, considerando difícil avaliar a dimensão daquilo que António Gervásio viveu, lembrou uma citação da obra que, de alguma forma, deixa perceber essa vivência. Com o 25 de Abril de 1974, a luta política na clandestinidade acabou e «o nome das coisas, tal como o nome das pessoas, podiam novamente valer, existir, lutar por si mesmos à vista de todos». Depois de vários anos de luta clandestina, o autor da obra recuperou, com a revolução, o seu verdadeiro nome.